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It: A Coisa cinema

Postado em: 28 de setembro de 2017

Cinema

A cena dos filmes de Terror vive uma estagnação gigantesca faz tempo. Fundamentada quase que totalmente em clichês e ideias porcas, sem dúvidas a pouca credibilidade que o gênero possui perante aos críticos se efetiva cada vez mais. It: A Coisa, baseado na clássica obra do mestre Stephen King, prometia revitalizar esse tipo de produção. As boas escolhas para o elenco e as mãos de um diretor competente no comando do projeto se mostraram promissores. Porém, o resultado ficou extremamente aquém do esperado.

Na história, o pequeno George é misteriosamente assassinado num bueiro. Como ninguém conseguiu identificar os motivos e as causas da morte, seu irmão Bill acompanhado de seus amigos (que formaram o chamado Clube dos Perdedores) partem numa aventura com a finalidade de solucionar o mistério. Entretanto, eles não contavam com o fator sobrenatural, este aparecendo na face do palhaço Pennywise.

O filme se concentra em duas frentes: a primeira preocupa-se em apresentar as crianças e todo o pano de fundo que está por trás de cada uma delas; a segunda, foca em mostrar o grande vilão do filme perseguindo ferozmente as personagens. E é justamente aí que o filme falha e adiante veremos o motivo.

Para começar, o elenco está em ótima forma. Todas os atores mirins mandam bem e estão devidamente caracterizados, com personagens extremamente tridimensionais, mostrando grande competência no roteiro nessa parte, pois as crianças fogem totalmente dos estereótipos de personagens infantis que estamos carecas de ver (como a criança prodígio, por exemplo). É bacana ver que o pano de fundo de cada um foi bem explorado, mostrando como cada uma delas lida com bullying, abuso sexual e outros temas pesados.

Bill Skarsgard não é tão bom quanto Tim Curry (ator que fez interpretou o vilão na versão para a TV para o livro It: A Coisa) porém faz um excelente Pennywise. Ao contrário da atuação do veterano, que alternava entre momentos engraçados e loucura/fúria amedrontadora, o jovem interpreta o palhaço como um caçador em busca de sua presa, trazendo nuances muito bacanas a sua interpretação como, por exemplo, uma constante salivação e aquele sorriso macabro que já se tornou icônico. Esses detalhes contribuem para dar credibilidade necessária para sua atuação.

Em relação as citadas frentes do filme, a parte que se concentra no desenvolvimento das crianças é disparada a melhor de toda a produção. Vemos a amizade entre os pequenos fortalecer, o misto de medo e coragem deles ao entrar nessa aventura, os dilemas que cada um tem que enfrentar e tudo que é digno das grandes histórias contadas por Stephen King. Sem dúvida, esse segmento é uma das melhores coisas que já apareceram numa adaptação cinematográfica baseada num livro do autor.

Por outro lado, o momento voltado para Pennywise mostra uma queda de qualidade brusca. Não chega a ser necessariamente ruim, porém não foge de absolutamente nada do que vem sendo feito em filmes de Terror nos últimos tempos. Ao invés de ser criada uma atmosfera sufocante, lenta e assustadora – algo que casaria muito bem com a proposta da adaptação – a direção opta pelos velhos clichês de uma trilha sonora “assustadora” nos momentos que deveriam ser de tensão e o excesso de jump scares.

It: A Coisa pode ser entendido como um daqueles filmes que tinham um enorme potencial para liderarem uma nova safra de boas produções em seu gênero e teve essa possibilidade desperdiçada. Com dois segmentos muito distintos em termos de qualidade, tornando-o bastante irregular, o filme mostra-se apenas mais uma vítima dos figurões que comandam de Hollywood hoje em dia.

Para quem não sabe, a direção do longa inicialmente ficaria a cargo de Cary Fukunaga, que tem uma sólida carreira dirigindo e escrevendo boas séries para a HBO. Com a interferência dos magnatas na produção no tocante as rédeas de como deveria ser o tom do filme, diminuindo sua liberdade de criação, ele optou por deixar a função e apenas assinou parte do roteiro (este dividido entre mais duas pessoas). Assim, a direção ficou nas mãos do argentino Andy Muschietti.

Muschietti é um diretor novo e já mostrou bastante competência no ótimo Mama. Entretanto, por se tratar de uma “cara nova” no meio das grandes produções é nítido que ele tenha cedido às exigências dos chefões da Warner pois sabia que esta era uma oportunidade de ouro para elevar o patamar sua carreira. Uma pena, pois quem já viu seu trabalho anterior sabe que ele poderia ter feito algo mais sólido.

Ivan Souza

Mineiro que graças as voltas que a vida dá foi parar no interior do Rio de Janeiro. Amante de futebol, acha que sabe de alguma coisa e cisma em escrever sobre filmes, livros, vídeo-games e música. Como bom filho das Gerais, adora cachaça e torresmo. Cuidado, seu senso de humor é tenebroso - pode machucar. Também escreve no https://saturnvillage.wordpress.com/ ,