Minha Vida Secreta na Máfia livros

Postado em: 22 de agosto de 2017

Livros

Livros biográficos sempre serão uma sacola de sortidos em relação a credibilidade de seu conteúdo. Ao mesmo tempo existem obras em que tudo – desde os pontos positivos e as ações mais podres do biografado – é contado, mas também há aquelas extremamente chapas-brancas. Este último caso se deve a alguns fatores, sendo que os principais se dão por conta do status de “intocável” que alguns atingem e a uma imagem (geralmente de “gente correta”) que outros insistem em zelar. Às vezes são as duas coisas. Uma grande desonestidade, por sinal.

E digo isso por ser um fã ardoroso desse tipo de obra. Gosto bastante de entender todo o contexto em que estavam inseridas várias pessoas públicas que julgo interessantes. É legal saber da grande dependência que Tony Iommi possuía da cocaína para compor as músicas do Black Sabbath ou que John Paul Jones compôs alguns dos riffs de guitarra mais icônicos do Led Zeppelin que são creditados ao lendário Jimmy Page. Entretanto, existe um tipo de biografia que conta partes importantes da história da humanidade de uma maneira que não imaginaríamos, recheada de detalhes que vão além do que é comumente transposto para nós. Minha Vida Secreta na Máfia é um destes casos.

Escrita numa parceria entre Joseph D. Pistone e o escritor Richard Woodley, ela narra os bastidores e a execução da primeira operação com um agente infiltrado do FBI para descobrir detalhes sobre atividades mafiosas. No caso, o agente em questão era o próprio Pistone e ele teve a dura missão de se infiltrar numa das mais poderosas famílias da máfia italiana que assombrou os Estados Unidos por vindouros anos. Se você já leu ou assistiu O poderoso chefão com certeza tem uma noção do que encontrar por aqui.

O grande barato do livro não é apenas relevar os fatores que levaram ao FBI tomar essa decisão, mas dissertar sobre a própria conduta e vida do agente durante todo o processo. Ao escalar todos os degraus para chegar ao panteão da máfia o vemos lidar com vários dilemas sobre sua própria moral e conduta (já que, como agente duplo, ele deve agir como um criminoso), as relações dele com sua família (que foi obrigada, sem saber, a mudar para Nova Jersey), os conflitos com os próprios membros da polícia federal e a amizade construída com Benjamin “Lefty” Ruggiero o seu “mentor” para a Máfia. Tudo isso se passando numa decadente Nova York da virada da década de 1970 para 1980.

Vale dizer que este livro foi transposto para o cinema sob o título Donnie Brasco, estrelado por Al Pacino e Johnny Depp. Apesar de mudar alguns pontos se comparados ao material que lhe serviu de base vale à pena assisti-lo pois ainda sim é bastante fidedigno à obra que lhe inspirou. Um detalhe bem interessante é que o citado Donnie Brasco era o nome usado pelo agente durante a operação e foi retirado de um seriado italiano da década de 1940 – Pistone que, por sinal, era filho de italianos e usou disso para convencer o FBI a colocá-lo na jogada. Como os mafiosos não perceberam isso é um mistério. Talvez estivessem ocupados demais para ver TV.

Se você estiver interessado em entender como operações com agentes infiltrados foram iniciadas aqui está o ponto de partida. O livro Minha Vida Secreta na Máfia traz uma escrita objetiva, bem simples e com um enredo que não deixa passar absolutamente nada. Então, prepara-se para ler algumas linhas bastante chocantes, afinal o retratado aqui é a vida real. E ela pode ser muito cruel até para o mais honesto dos homens.

Ivan Souza

Mineiro que graças as voltas que a vida dá foi parar no interior do Rio de Janeiro. Amante de futebol, acha que sabe de alguma coisa e cisma em escrever sobre filmes, livros, vídeo-games e música. Como bom filho das Gerais, adora cachaça e torresmo. Cuidado, seu senso de humor é tenebroso - pode machucar. Também escreve no https://saturnvillage.wordpress.com/ ,